terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Vergonha

Até então eu nunca havia sido parado em uma blitz, nunca tive que fazer testes de embriaguez e nem mesmo apresentar a carteira de motorista para alguém. Eu nunca havia tomado uma multa de trânsito sequer. Tudo isto até eu conhecer a polícia rodoviária de São Paulo.
Na volta de Maresias dei carona pro Kevin, um canadense que conheci no Hostel e estava indo pegar um vôo de São Paulo para Lima, no Peru. No meio do caminho, mais especificamente em frente do posto rodoviário da cidade de Bertioga, um policial rodoviário dá sinal para eu parar o carro. Procedimento padrão: carteira de motorista e documentos do veículo. Beleza, tudo em dia. Ele então dá uma volta ao redor da caminhonete e pede pra abrir a caçamba. Dá uma olhada por cima e pede pra fechar.
- É, vou ter que apreender o veículo, chefe.
- Como assim, senhor?
- Os pneus estão para fora dos paralamas. Tá ilegal. Multa, apreensão dos documentos e do veículo.
- Como assim? Eu vi isso quando regularizei o carro. Falaram que estava certo. Não tinha problema.
- Não tá não. Vou ter que aprender o veículo. Vamos lá pra dentro que eu vou fazer a multa.
Nessa hora eu fiquei apavorado. Imagina a mão que seria pegar todas as minhas coisas e ir de ônibus pra casa no meio das férias. Que merda infinita isso seria. Mas enfim, em acontecimentos como esse o cara tem que ter sangue frio. Entrei na salinha e ele começou:
- Pois é, chefe, apreensão do veículo, documentos, multa e pontos na carteira. Trinta dias pelo menos para os documentos chegarem até Porto Alegre. Nesse meio tempo tu vai ter que pagar o valor da diária do depósito da polícia e mais um monte de coisa...
- Caramba. Sério, nunca fui parado por causa disso. Fazem anos que tenho a caminhonete e nunca – repito nunca – me pararam. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Passei por lá e nunca deu nada.
- É, essa polícia é fraca. Aqui nós paramos. Mas não te preocupa, chefe, tu deve ter grana, não vai doer muito no bolso.
- Como assim, senhor? Imagina quanto isso vai me sair, alem da mão que vai ser ter que voltar pra casa.
- Pois é, eu sei disso. Mas então, o que tu sugeres fazer?
Neste momento eu parei e fiquei pensando “Nããão, não pode ser, o cara tá me testando”.
- Sei lá, não sei.
- Tu não sugeres nada? – disse ele. Nós podemos fazer um acordo.
- Quanto eu posso sugerir, então? Tenho pouco dinheiro aqui, só cartão. Deixa eu ver ali com o cara quanto ele tem.
Fui falar com o Kevin e ele tinha uns R$200. Com mais R$ 100 achava dava uma quantia boa (que, segundo informações, é muito dinheiro pra este tipo de situação). Voltei e disse que tinha R$ 300.
- Vamos fazer assim, então. Tu me passa metade disso e deixamos assim, ok? Fica bom pros dois, e além disso tu não fica sem dinheiro. Fechado, chefe?
- OK
Passei a grana me mordendo de raiva. Ele me devolveu os documentos e fomos embora. Eu não acreditava no que tinha acontecido, e quando a raiva começou a baixar me dei conta que certamente isso não acabaria assim tão fácil. Passava por todos os postos rodoviários me cagando de medo, certo de que eles iriam fazer a mesma coisa novamente. E fizeram. Uns 200 km depois eu já havia largado o Kevin e estava descendo a serra de São Paulo. Ali perto de Registro o policial acena novamente e manda eu parar. A mesma coisa se sucede.
- Pois é, pneu para fora do paralama, blá blá blá...
- O que nós podemos fazer, então? – disse eu.
- Eu soube que o meu amigo não prendeu o veículo, mas eu vou ter que fazer, lamento, amigo. A não ser que nós façamos um acordo, o que tu acha?
Só para encurtar a estória, o primeiro policial avisou que eu estava indo pra Curitiba e informou o outro quanto eu havia pago. Tive que pagar DENOVO para o policial. Puta que me pariu!
Mas obviamente que quando a merda é grande, é tão grande que vira piada. Na divisa do Paraná, no último posto rodoviário paulista, o TERCEIRO cara me para. Mesma coisa, só que desta vez eu não tinha mais dinheiro. Tomei um chá de banco e ele viu que eu não tinha mais nada. Resolveu me dar uma multa por raiva mesmo, mas acabou liberando o carro.
Saí, passei a divisa e aqui estou. Detalhe, desde que saí de SP passei pelo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul em pelo menos 20 postos rodoviários e nenhum policial me parou. Mas é claro que foi só uma coincidência...

7 comentários:

Leandro CP disse...

CARALHA. nem consigo imaginar a raiva que eu sentiria perante a isso. paulista é lixo, mesmo.

última coisa parecida que aconteceu comigo foi no Aeroporto de Maputo, os caras me seguraram na alfândega até o último minuto querendo cobrar uma multa imensa porque eu não tinha pago US$25 na entrada, sendo que ninguém tinha me cobrado nada, pior aeroporto. no fim aceitaram os $25 que eu tava oferecendo o tempo todo.

pior sentimento, o de impotência. estupro moral.

Unknown disse...

"paulista é lixo, mesmo." certamente a corrupção é característica exclusiva do povo de são paulo. a lógica deve se aplicar aos negros também, levando em conta o incidente de maputo.

Luciana Saraiva disse...

Aconteceu algo parecido comigo e com a minha família no Uruguai, também duas vezes na mesma viagem, mas a primeira foi por erro meu e a segunda foi por falta de caráter do policial mesmo. Dá muita raiva isso, te entendo.
:(
Saudades, Paulinho! beijos

Luciana Saraiva disse...

Ah, acho que tu tens que divulgar isso, manda pra ZEAGÁ e manda por e-mail para todos colunistas...inclusive os que tem blog e tal.

Paulo disse...

Farei-o. Só estou esperando chegar a tal multa para tomar as devidas providências.
Corrupção é foda, principalmente da polícia, que supostamente está ali pra te ajudar. Isso dá um nó na cabeça do cara.

Lisi Lane disse...

O mais lamentável é que numa situação dessas a única "autoridade" que todo mundo lembra pra se socorrer é a Zero Hora...

Uma idéia quando acontecer de novo: Olha só senhor policial, tem um amigo meu que trabalha num programa de televisão que quer fazer uma matéria sobre isso. O senhor pode dar uma entrevista pras câmeras falando que não pode ter roda desse jeito?

Suerte ae Paulinho.

Paulo disse...

Espero que NÃO aconteça denovo. Mas a questão da ZH é verdade... fiquei imaginando o Sant'Ana indignado e comprando a minha briga.